Autor/es: Luiz Carlos Ramos
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Bem-aventurados os que têm saudade de Deus;
o Reino dos Céus lhes pertence.
Bem-aventurados os tristes;
consolo lhes será dado.
Bem-aventurados os de espírito manso;
a terra lhes será dada por posse.
Bem-aventurados aqueles que têm fome e sede de justiça;
eles serão satisfeitos.
Bem-aventurados aqueles que mostram misericórdia;
porque eles receberão misericórdia.
Bem-aventurados aqueles cujos corações são puros;
eles verão a Deus.
Bem-aventurados os que lutam pela paz;
Deus os chamará de filhos.
Bem-aventurados aqueles que têm sofrido
perseguição por causa da justiça;
o Reino dos Céus lhes pertence.
(Mt 5.3-11, ver. de Rubem Alves)
Aqui, o Poeta de Nazaré traça, com linhas suaves, a doce fisionomia do bem-abenturado.
A expressão “bem-aventurado” se refere à quem é feliz, bem-fadado, sortudo, felizardo, afortunado, venturoso, ditoso. Por isso causa estranheza que tal adjetivo se aplique a quem é pobre, faminto, injustiçado, perseguido.
Acontece que o senso comum nos impele a buscar a felicidade na riqueza, no prestígio, no sucesso, no triunfo sobre tudo e subjugando a todos.
No entanto, esses, que geralmente ocupam o topo das hierarquias sociais e institucionais, não são felizes. Conquanto bajulados pela frente, mal viram as costas, logo são amaldiçoados pelos mesmos bajuladores, por isso são mal(-)ditos, infelizes, detestados porque detestáveis.
Só aqueles que se despem de toda presunção e arrogância, se destituem de toda tirania e autoritarismo, só os que se esvaziam de divindades e prepotências, sim, só os que abrem mão de tudo para então assumir a estatura e a ternura do servo mais humilde é que recebem o dom da bem-aventurança.
A última vez que visitei meu querido amigo, Reverendo Luciano, foi três dias antes da sua morte. Ele estava muito debilitado. Sofria dores e uma sede sem fim. Pele e osso. Muito da sua enfermidade, sabe-se, foi consequência do bullying praticado por colegas e das perseguições da parte de autoridades eclesiásticas. E, a despeito de tudo, permanecia manso, sereno, humilde…
Foi ali, olhando seu rosto e corpo esqueléticos, suas olheiras e olhos profundos, que eu vi materializado, bem na minha frente, o perfil do bem-aventurado descrito pelo poeta de Nazaré.
Porque os verdadeiramente bem-aventurados são os humildes, os que choram, os mansos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os pacificadores, os perseguidos e injuriados por causa da justiça.
Você conhece alguém com essa fisionomia, com esse perfil? Se sim, que privilégio!
Quando se olha no espelho, o que você vê? Espero que não seja o infeliz reflexo de um desventurado, mas a doce fisionomia do bem-aventurado?
Bem-aventurados os bem-aventurados!
Reverendo Luiz Carlos Ramos†
Quarto Domingo após Epifania | Ano A, 2016-2017