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24 de abril de 2009

Pentecostes - uma experiência plural

Autor/es: Paulo Roberto Garcia

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Pentecostes! Rico período do calendário litúrgico. Período de
celebrar a presença consoladora, orientadora e desafiadora do
Espírito Santo na vida de todos os filhos e filhas de Deus. Período
de celebrar o Vento impetuoso que sopra onde quer e transforma tudo
por onde passa. Nesse momento litúrgico fundante da vida da Igreja
Cristã, gostaríamos de revisitar o texto de Atos 2.1-14, 37-47


Um olhar literário sobre o texto

Uma primeira observação literária acerca do texto é que os relatos de
Atos 2-5 se constituem em relatos de fundação, ou seja, são relatos
que, mais que contar a história do princípio, aponta as
características básicas da Igreja nascente. São 3 experiências que
têm uma mesma estrutura: relato da experiência; discurso; reação e
descrição do crescimento da Igreja. Assim, o tripé que determina a
identidade da Igreja nascente é a experiência de pentecostes;
solidariedade e graça de Deus para com o enfermo à margem do
caminho e a partilha dos bens.

O nosso texto segue a estrutura básica. Após a experiência de
Pentecostes, Pedro se levanta e faz um discurso, a multidão reage, há
conversões e descreve-seo crescimento da Igreja.

Uma segunda observação literária deve ser feita olhando-se,
atentamente, a perícope que retrata a experiência de Pentecostes
(2.1-13). Examinando esse texto percebemos que ele apresenta algumas
rupturas em sua seqüência literária. Essas rupturas são importantes e
merecem ser destacadas. Para tanto, já fizemos na apresentação do
texto uma apresentação gráfica que detalharemos abaixo:

* enquanto no vs 4 são os apóstolos que falam várias línguas no vs 11
são os ouvintes que ouvem cada um em sua língua (o texto deixa duas
possibilidades de entendimentos do milagre: os apóstolos é que
puderam falar línguas estrangeiras, ou, os estrangeiros ouviam os
apóstolos falando em suas línguas de origem). Já quando lemos o vs 13
encontramos os estrangeiros ouvindo uma língua estranha, ao ponto de
declararem que os apóstolos falavam como bêbados;

* no vs 6, quando relata que as multidões ouviram o "barulho", não
fica claro que barulho que a multidão ouvia, se era o da teofania (a
descida do Espírito Santo) ou das línguas, nesse caso estranhas, ao
ponto de serem confundidas com barulho;

Essas rupturas literárias apontam para uma possível costura nesse
texto. A Igreja nascente possuía duas formas diferentes de relatar a
experiência de Pentecostes, o relato de Atos agrupou as duas, uma vez
que ambas eram importantíssimas e determinavam, cada uma com sua
ênfase, as características da comunidade.

A primeira forma de contar o evento pode ser encontrada nos
versículos 6a, 12-13. Essa forma estaria ligada a uma tradição onde a
ênfase central do Pentecostes recaia na glossolália (o dom de
línguas). A centralidade na glossolália aponta o cumprimento do
evento escatológico definitivo, como encontrado em diversos textos
escatológicos, em especial em Joel, o qual vai ser retomado no
discurso de Pedro. Nessa tradição o Pentecostes marcaria o
início de um novo tempo (Kairós), o tempo escatológico definitivo.

A segunda forma de contar é encontrada nos demais versículos e
enfatiza que o Espírito Santo capacita os discípulos a serem
compreendidos por todos os povos. Essa tradição tem relação direta
com a promessa/desafio de At 1.8, onde a dádiva do Espírito Santo tem
como finalidade o testemunhar a Cristo.
Se a tradição anterior remontaria a Joel e a outras expectativas
escatológicas, essa é uma anti-Babel, ou seja, é o inverso da
experiência que dividiu todos os povos. Se em Babel a exacerbação do
poder humano dividiu osseres humanos, aqui, na ação do Espírito, há
uma convergência universal à unidade.

Refletindo sobre as tradições

Nessas duas tradições, há um ponto em comum que é a comunidade. O
pentecostes é um elemento comunitário da fé. É um evento definitivo
que acontece no seio da comunidade, contudo, não se esgota nela,
muito pelo contrário, impulsiona a comunidade de fé em direção ao
mundo e cria uma experiência que não fica restrita às paredes do
lugar onde se reúne a comunidade e nem aos limites que os
preconceitos estabelece: todas as nações ouvem - em sua própria
língua - as grandezas de Deus. Como relato de fundação, essa
experiência aponta para a identidade da comunidade, a qual é definida
a partir da missão: a comunidade existe para partilhar as grandezas
de Deus com todos os povos em todos os lugares da terra. Ou seja, a
comunidade não tem fim em si própria, ela existe para o serviço -
serviço a todos os povos.

Assim sendo, Pentecostes é experiência comunitária e missionária por
excelência. Contudo, é uma experiência que se funda no reconhecimento
que a missão e a Ação de Deus não ficam limitadas a barreiras físicas
e ideológicas, antes, alcançam o mundo inteiro. O resultado dessa
ação tem efeito na forma de viver e se relacionar intra-comunidade e
extra-comunidade. Há uma relação de solidariedade, respeito e
partilha que apresenta a comunidade ao mundo como testemunha viva das
"grandezas de Deus"anunciadas.

Celebrar o Pentecostes é ter um olhar para a realidade, um olhar que
prescinda do sectarismo e dos preconceitos que impedem de ver na
realidade, do outro e da outra, um espaço para a manifestação da
graça de Deus. Celebrar o Pentecostes é celebrar a ação de Deus que
se espalha pelo mundo e se faz unidade, esperança e paz.

(Esse artigo foi publicado no jornal "Mosaico - Apoio Pastoral" da
Faculdade de Teologia da Igreja Metodista do Brasil e foi dedicado a
memória do Rev. Willian Schisler - Dico)

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